Herodes, o Grande, foi o rei dos judeus de 37 a.C. a 4 a.C. Ele também é conhecido como Herodes I e ficou na história como um governante impiedoso e amplamente detestado.
Um dos episódios mais lembrados de seu reinado foi a ordem para matar os recém-nascidos em Belém, conforme mencionado no Evangelho de Mateus (2).
Entretanto, ao discutir quem foi Herodes, é importante entender que há várias figuras chamadas Herodes na Bíblia. Todos esses indivíduos eram descendentes de Herodes, o Grande, que teve muitos filhos e netos de diferentes esposas, criando um extenso clã familiar. Por isso, ao falar sobre “rei Herodes”, é essencial identificar a qual deles estamos nos referindo.
A família de herodes
A seguir, vamos focar nos principais descendentes de Herodes, o Grande, para facilitar a identificação dos diferentes Herodes mencionados na Bíblia.
Herodes Filipe I: Era filho de Herodes com Mariamne, a betusiana. Casou-se com Herodias, filha de Aristóbulo, seu meio-irmão.
Juntos, tiveram Salomé, mencionada indiretamente nos Evangelhos. Sob a influência da mãe, Salomé pediu a cabeça de João Batista (Mateus 14:6; Marcos 6:22,28; Lucas 3:19).
Herodes Arquelau: Filho mais velho de Herodes e Maltace, a samaritana, ele reinou brevemente em substituição a seu pai (Lucas 2:22), mas foi exilado por Roma em torno de 6 d.C. Muitos o consideram o mais detestado entre os herdeiros de Herodes.
Herodes Antipas: O filho mais novo de Herodes com Maltace, também conhecido como “Herodes o tetrarca”. Ele se casou com Herodias, que antes era esposa de seu meio-irmão, Herodes Filipe I. Herodes Antipas desempenha um papel relevante no Novo Testamento, governando a Galileia e a Peréia na época de Jesus. Foi responsável pela prisão e execução de João Batista (Marcos 6:14-28) e, posteriormente, Pilatos enviou Jesus a ele para julgamento (Lucas 23). Herodes Antipas foi exilado em 39 d.C., morrendo algum tempo depois.
Herodes Filipe II: Provavelmente identificado como “Filipe, o tetrarca”, ele era filho de Herodes com Cleópatra de Jerusalém. Após a morte de seu pai, recebeu a tetrarquia da Ituréia, Traconites e outras regiões (Lucas 3:1). Sua morte é estimada por volta de 34 d.C.
Herodes Agripa I: Neto de Herodes o Grande e filho de Aristóbulo, é o Herodes mencionado em Atos 12:1 como “Herodes o rei”. Após passar boa parte da vida em Roma, o imperador Gaio o nomeou governante de territórios ao nordeste da Palestina. Mais tarde, Galileia, Peréia, Judeia e Samaria foram anexadas ao seu reino. Ele perseguiu os apóstolos nos primeiros anos da Igreja Primitiva e faleceu por volta de 44 d.C.
Herodes Agripa II: Filho de Agripa I e bisneto de Herodes o Grande, governou áreas ao norte e nordeste da Palestina. Ele interrogou o apóstolo Paulo no livro de Atos (Atos 25; 26). Foi o último da dinastia de Herodes, possivelmente falecendo no final do primeiro século.
A história de herodes, O grande
Após identificarmos os principais personagens bíblicos com o nome Herodes, podemos nos aprofundar na história do mais famoso deles.
Herodes, o Grande, nasceu por volta de 73 a.C. Ele era filho de Antípatro e de uma mulher árabe, sendo originário da Iduméia, uma região ao sul da Palestina. Esse território havia sido ocupado pelos edomitas e, posteriormente, conquistado pelos judeus da dinastia dos hasmoneus.
Seu pai ganhou influência na Judeia quando Roma passou a dominar a área, sendo nomeado procurador por Júlio César. Aos 26 anos, Herodes foi designado como magistrado da Galileia.
Rapidamente, ele ganhou reconhecimento ao combater os criminosos da região. Após o assassinato de Júlio César, Herodes contou com o apoio de Marco Antônio. Nesse período, Antígono, da dinastia hasmoneana, foi colocado no trono da Judeia pelos partas.
Esse foi um momento difícil para Herodes, já que ele não tinha o apoio dos judeus, pois Antígono era considerado um legítimo representante da linhagem hasmoneana, que governava a região desde a Revolta dos Macabeus.
Herodes foi forçado a fugir e, em seguida, viajou para Roma em busca de auxílio. Foi somente então que o Senado romano o declarou rei dos judeus, em grande parte devido à influência de Marco Antônio e Otávio.
O reinado de Herodes
Embora tenha recebido o título de “rei dos judeus”, Herodes precisou de três anos de batalhas para garantir sua autoridade. Após cercar Jerusalém com o apoio de tropas romanas, ele conseguiu eliminar Antígono. Com a morte de Antígono, os judeus nacionalistas perderam suas esperanças de independência, e o país foi finalmente dominado.
Até cerca de 31 a.C., Herodes ainda enfrentava uma posição delicada. Outra ameaça ao seu reinado vinha de Cleópatra, governante do Egito, que desejava anexar a Judeia ao reino ptolemaico e usava sua influência sobre Marco Antônio para tentar alcançar esse objetivo.
No entanto, quando Otávio se tornou o imperador romano (César Augusto), ele confirmou o reinado de Herodes e ainda ampliou seu território, concedendo-lhe novas áreas na Galileia.
Apesar de seu casamento com a princesa hasmoneana Mariamne, Herodes nunca conseguiu conquistar a aceitação dessa família, que o via como um usurpador. A desconfiança de Herodes o levou a eliminar os principais membros dos hasmoneus, inclusive sua própria esposa.
Durante seu reinado, Herodes conseguiu estabilizar suas fronteiras, em alinhamento com os interesses de Roma, governando por mais de três décadas como um fiel aliado do Império Romano.
As construções do Rei Herodes
O rei Herodes ficou famoso também por suas grandes obras. Ele não se limitou a construir apenas em seu próprio território, mas também realizou projetos em cidades estrangeiras. Sua principal realização foi, sem dúvida, a reconstrução e expansão do Templo de Jerusalém.
Esse projeto começou por volta de 20 a.C., e, durante o ministério de Jesus Cristo, ainda não estava concluído. Esse é o mesmo Templo mencionado em várias passagens do Novo Testamento.
A obra envolveu milhares de trabalhadores e se tornou um motivo de orgulho para os judeus. Mesmo os apóstolos de Jesus admiraram a grandiosidade do Templo, mas ouviram do Mestre que ele seria destruído, sem restar pedra sobre pedra (Mateus 24:1,2).
Herodes também restaurou Samaria e transformou a Torre de Estratão no Mediterrâneo, criando um porto artificial no local.
Além disso, ele reconstruiu a fortaleza de Antônia e ergueu para si um impressionante palácio em Jerusalém. Em várias partes do Império, ele construiu cidades, praças, templos e anfiteatros.
Muitas de suas construções recebiam nomes que homenageavam o imperador romano, seus amigos ou membros de sua família. Herodes se dedicava tanto às atividades culturais de sua época que chegou a patrocinar os Jogos Olímpicos.
Apesar de ter reconstruído o Templo de Jerusalém, Herodes também construiu diversos templos em homenagem a Roma e ao imperador, o que revela claramente que ele era um rei pagão.
A tirania do Rei Herodes
Por um lado, o rei Herodes demonstrava certa complacência, mas por outro, exibia uma crueldade imensa. Ele costumava se disfarçar como uma pessoa comum e se misturar entre o povo, com o objetivo de entender o que as pessoas pensavam dele e identificar possíveis conspirações. Dessa forma, ele eliminava qualquer sinal de ameaça ao seu poder.
Herodes não hesitava em tomar medidas extremas, nem mesmo contra seus próprios familiares. As intrigas dentro de sua própria casa o levaram a ordenar a execução de sua esposa e de alguns de seus filhos. Sua natureza desconfiada e violenta é claramente revelada no episódio em que ordenou a morte de crianças em Belém (Mateus 2:16).
Ao ouvir falar sobre o nascimento de Jesus, Herodes fez de tudo para garantir que o recém-nascido fosse eliminado. Ele não podia suportar a ideia de alguém que pudesse ameaçar seu trono. Herodes chegou a tentar enganar os magos vindos do Oriente, buscando que eles revelassem o paradeiro do Messias. Ao perceber que havia sido enganado, ordenou a execução de todos os meninos com menos de dois anos de idade na região de Belém (Mateus 2).
A morte do Rei Herodes
Os últimos anos do reinado de Herodes, o Grande, foram marcados por atos de tirania e decisões insanas que revelavam sinais de desequilíbrio mental. Entre suas ordens mais extremas, ele mandou que vários anciãos judeus fossem executados assim que sua morte fosse anunciada, com o objetivo de garantir que houvesse um grande luto generalizado. Contudo, seus herdeiros não cumpriram essa ordem.
Herodes faleceu aos cerca de 70 anos, por volta de 4 a.C. A causa exata de sua doença permanece incerta, embora alguns estudiosos sugiram que ele sofria de uma doença renal crônica. O fato de ele ter morrido em 4 a.C. e ainda ter sido contemporâneo do nascimento de Jesus está relacionado a um erro no cálculo do calendário cristão.
Em seu testamento, Herodes dividiu seu reino entre seus filhos. Herodes Arquelau foi designado para governar a Judeia (Mateus 2:22), Antipas foi nomeado governador da Galileia e Pereia, enquanto Herodes Filipe herdou as terras ao nordeste (Lucas 3:1).
Arquelau, no entanto, governou de forma tão ruim que o povo o denunciou aos romanos, levando Roma a nomear seu próprio governador. Somente mais tarde, com Herodes Agripa I, a Judeia voltou a ser governada por um membro da dinastia herodiana, ainda que por um curto período.